sexta-feira, 6 de março de 2009

Números da desigualdade

Gismeire Hamann Andrade


Chamou-me a atenção a seguinte frase que li durante meus estudos "a produção capitalista criou as condições materiais da existência humana em sociedade no seu estágio mais avançado e ameaça destruí-las" (BOLDRINI, 2002 p.10). É o que observamos hoje ao analisarmos que “o capitalismo global fez aumentar a pobreza e a desigualdade social não só através da transformação das relações entre o capital e o trabalho, mas também pelo processo de ‘exclusão social’” (Capra, 2005, p.155). Evidencia-se, portanto que "além de sua instabilidade econômica, a forma atual do capitalismo global é insustentável dos pontos de vista ecológico e social, e por isso não é viável em longo prazo” (idem, p. 167) .
Isso levou-me a refletir, pois para a sociedade de modo geral isso parece algo muito longe de estar acontecendo! A maioria das pessoas acha que não existem excluídos no mundo ou se existem esse número não é tão grande assim. Para elas esse papo de desigualdade e exclusão social é só falácia, pois estão cegas e impregnadas pelo pensamento ideológico da classe dominante. Acha-se natural existirem pessoas passando fome, morando em barracos de lona... e pior... atribui-se a isso por exemplo a falta de valores familiares ou de esforço e dedicação. Porém basta olharmos com mais atenção alguns números que aparecem divulgados, por exemplo, pela ONU - Organização das Nações Unidas, pela CPT - Comissão Pastoral da Terra, pelo IBGE - Instituto de Geografia e Estatística, pelo INCRA - Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, pelo IAPAR - Instituto Agronômico do Paraná e outras tantas entidades governamentais ou não. Esses números retratam uma cruel realidade.
Um exemplo são alguns dos números divulgados pelo Worldwatch Institute no relatório O Estado do Mundo em 2003:
· Sete mil pessoas morrem por dia vítimas de malária, sendo este número superior ao de pessoas com AIDS que vêm a óbito;
· 5,5 mil crianças morrem por dia devido a más condições de sanitárias básico, falta de água potável e contaminação dos alimentos, ar e água;
· 1 bilhão de pessoas em todo o mundo buscam abrigo em assentamentos "informais", freqüentemente em locais extremamente precários - encostas íngremes ou várzeas, lixões ou a jusante de poluidores industriais vivendo não apenas sob constante ameaça de despejo, mas também dos riscos de desastres naturais e doenças devido à falta de água e saneamento;
· Cientistas consideram que o mundo se encontra em meio a maior onda de extinção de animais desde o desaparecimento dos dinossauros, 65 milhões de anos atrás.
Loureiro (2006, p. 41) ainda complementa estas informações citando que segundo este mesmo relatório, "as três pessoas mais ricas possuem patrimônio igual ao PIB dos 48 países mais pobres e aproximadamente trezentas maiores fortunas possuem em ativos o equivalente à renda de dois bilhões e setecentos milhões de pessoas".
Segundo dados da ONU, publicados pela CPT, estima-se que 20% da população mundial se apropriam de 86% das riquezas do mundo. E ainda aproximadamente 75% do comercio mundial se realiza entre empresas multinacionais. Além disso, até 2001, as 10 empresas mais importantes de cada setor no mundo controlavam 86% das comunicações, 70% da informática, 60% dos produtos veterinários, 35% dos remédios, 46 % do comercio de sementes e 90% do mercado dos agroquímicos.
O IBGE (2006) também não trás números muito animadores, segundo:
· o Brasil tem 170 milhões de habitantes e destes 50 milhões de pessoas vivendo em condições de indigência, com renda inferior a oitenta reais por mês, ou seja 29,26% de nossa população não consegue satisfazer suas necessidades diárias.
· 14 milhões de brasileiros vivem em domicílios caracterizados por um estado de insegurança alimentar grave, o que significa que convivem com a fome quase todos os dias, alguns dias, ou um ou dois dias por mês.
· 10% das pessoas (os mais ricos) ficam com quase 50% da renda, enquanto 50% das pessoas (os mais pobres) ficam com um pouco mais que 10% da renda;
· 1% das famílias mais ricas consome 15% da renda, mais de 85 milhões de pessoas (a metade mais pobre) consomem apenas 12%.

Sabe-se hoje que o Brasil é a nona economia mundial, porém possui a 4ª maior concentração de renda no planeta, só perdendo para Serra Leoa, (República Centro - africana e Suazilãndia). Essa situação se reflete no campo onde somos o segundo país em concentração de propriedade fundiária em todo o planeta.
Segundo o INCRA , em texto publicado no Jornal Mundo Jovem:
· 1% dos estabelecimentos agrícolas controla 45% das terras, enquanto que 90% dos pequenos estabelecimentos possuem apenas 20% da área agricultável;
· 62% da área total dos imóveis rurais do país é improdutiva (na média nacional);
· 120 milhões de hectares são de terras boas para a agricultura e pecuária não produzem nada;
· 30 milhões de hectares pertencem a empresas estrangeiras;
· 32 mil latifundiários concentram 132 milhões de hectares;
· Apenas 30% dos imóveis cadastrados no INCRA são considerados produtivos;
· 250 milhões de áreas devolutas (áreas que perte&ncem ao Estado e foram apropriadas ilegalmente por grandes proprietários).
A situação do Paraná também é alarmante, segundo dados do IAPAR (2000) [1] nosso Estado é o sexto no ranking nacional de desenvolvimento, onde temos 72% dos municípios apresentando IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) inferior à média nacional. Temos aqui 9,5 milhões de habitantes dos quais cerca de 1 milhão de pessoas vivem abaixo da linha de pobreza, ou seja, ou pouco mais de 10% da população vive ou sobrevive com menos de 25% do salário mínimo, sendo que destes 35,11% vivem no campo.
Será que todas as pessoas do planeta possuem realmente qualidade de vida ou apenas sobrevivem da pior forma possível muitas vezes?
E na sua cidade existe desigualdade e exclusão social?
no Jornal Mundo Jovem. Ano XLIV, n. 368, julho 2006. p. 13.
REFERÊNCIA
BOLDRINI, E. B. Créditos de Carbono. (A Ideologia da Educação Ambiental). In: Revista Geo Notas. V.6, Número 3, Jul/Ago/Set 2002.ISSN 1415-0646 Departamento de Geografia - Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2002. Disponível em http://www.dge.uem.br/geonotas/vol6-3/boldrini.shtml. Acessado em 16/05/07
CAPRA, Fritjof. As conexões ocultas: ciência para uma vida sustentável. Marcelo Brandão Cipolla (trad.) São Paulo: Cultrix, 2005. 295p.
COMISSÃO PASTORAL DA TERRA -CPT. 22ª Romaria da Terra do Paraná em Tamarana, 20/08/2006.
JORNAL MUNDO JOVEM. Ano XLIV, n. 368, julho 2006. p. 13.
FONTE: ANDRADE, G. H. Educação Ambiental no ensino de Ciências: uma abordagem a partir do Materialismo Histórico e Dialético. Proposta de atividade. CD-ROM. Programa de desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná - PDE. Candói-PR, 2008.

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