quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A política energética brasileira e os apagões.

Há algum tempo atrás, mais precisamente há alguns anos, o medo do apagão tomou conta de todos. Em todos os lugares o assunto do dia era o apagão. Foi a partir daí que a energia passou a ser algo mais presente na vida das pessoas.
Muito vem sendo discutido sobre o tema energia o que fez com que se surgisse mais forte uma cultura de economia de energia. Que se por um lado se tem o desenvolvimento de tecnologia que poupam energia, como por exemplo, as lâmpadas econômicas. Por outro existe um jogo de interesses onde estão os benefícios para os produtores das mercadorias que usam essas novas tecnologias que interessam.
Até mesmo a geração de energia por fontes alternativas passou a ser explorada, de modo que se fala muito em energia eólica; em geração de energia por pequenas hidrelétricas; em energia solar ou energia biomassa. Unidades piloto de usinas com casca de arroz e cavaco de madeira funcionam em alguns lugares em nosso país, assim como usinas eólicas já estão sendo implantados no sul do Brasil.
A discussão sobre o que é essencial e o que é supérfluo, em termos de consumo de energia, é grande. Enquanto são difundidas formas de economizar energia ao "homem comum", contraditoriamente encontramos nas cidades "anúncios iluminados que ficam a noite acesos, num momento em que a maioria dorme. Como propagandas, não servem de nada, mas gastam horrores de energia" (KAIZER, 2006, p.49). Mais uma vez se percebe que o que impera é a lógica capitalista onde vemos pressão para a implantação de termelétricas a carvão, apesar dos altos impactos da queima de carvão. E do incentivo à produção de biocombustíveis como o álcool e biodiesel, sem levar em conta os danos causados desde o plantio da cana e soja até seu processo de produção.
KAIZER (idem) nos lembra que "o risco do apagão também tem servido para discutir o modelo de privatização do país que não trouxe fontes novas de energia, mas só fez crescer a tarifa". E ainda explica:
Na lógica capitalista, em que não interessa o bem público, mas os lucros, o lance é fazer escassear um produto. Com isso o preço aumenta e se torna interessante a sua venda. É o que está acontecendo agora. O custo da energia teve um grande aumento de preço, o que só é bom para as distribuidoras de energia que surgiram com a privatização do setor. As usinas termelétricas a gás nem sempre estão funcionando a pleno vapor (o trocadilho é inevitável) porque quem construiu quer a dolarização da tarifa, em função de que o gás que ela consome tem preços em dólares. É a lógica da escassez para gerar lucro em detrimento do interesse comum.

Segundo ele ainda esse mesmo pensamento é o que explica a escassez de reservas d’água nas nossas barragens, além da falta de chuva. Uma vez que depois de certo tempo sem grandes investimentos na geração de energia e da privatização de sua distribuição, estimulou-se o interesse em gerar mais consumo para gerar mais lucro. O resultado disso foi que nossas barragens foram usadas além da taxa de reposição de chuvas e aí é que residiu a verdadeira culpa dos apagões e não na natureza como se difundiu
Kaizer (2006, p.48) ressalta a necessidade de pensarmos criticamente sobre "o mundo de desperdícios que é a nossa sociedade de consumo". E também como é possível se fazer economia através de medidas simples como apagar luzes de salas vazias e usar equipamentos mais econômicos. Para ele uma sugestão muito boa é "desligar mais seguido a TV, conversar em vez de ficar consumindo cultura inútil". O autor ainda nos deixa como conclusão a seguinte reflexão: "Já pensou quanta energia seria poupada com milhões e milhões de televisores desligados neste imenso país? Certamente estaríamos bem melhor se isso ocorresse, construindo a superação deste modelo insustentável de vida" (p.50).
Para Vainer e Bermann "temos muito a fazer no terreno da redução e racionalização do consumo", muita energia poderia ser economizada. Basta compararmos o consumo energético de um shopping center, de "arquitetura energeticamente estúpida exige iluminação e refrigeração artificiais por todo o dia", com as áreas comerciais de nossas cidades. Eles seguramente afirmam que aumentando a eficiência dos eletrodomésticos e das indústrias também poderíamos economizar muita energia. E nos fazem pensar sobre outro fato interessante quando nos explicam que

A economia seria infinitamente maior se, ao invés da simples pressão sobre o consumidor residencial, fossem revistos os acordos de fornecimento com indústrias eletrointensivas que se beneficiam de enormes subsídios. As indústrias de alumínio, por exemplo, exportam 70% da produção e recebem subsídios de 200 a 250 milhões de dólares ao ano para as fábricas do Pará e Maranhão. Trocado em miúdos, isto quer dizer que destruímos nossas florestas, inundamos terras férteis, expulsamos do campo populações ribeirinhas, eliminamos cultural e, mesmo, fisicamente, populações indígenas… para subsidiar o consumo de alumínio nos países dominantes — que, desde a crise do petróleo, deslocaram para os países periféricos os setores industriais que consomem grandes quantidades de energia. (VAINER E BERMANN)
(Autoria: Gismeire Hamann Andrade)
REFERÊNCIA

KAIZER, A. Parece que vai faltar luz! In: A Reconciliação com a floresta. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. p.48-50.
VAINER, C. B. e BERMANN, C. Lições da crise energética. s.d. In: Site do Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB. Disponível em:

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